domingo, 28 de agosto de 2011

Vitória ao estilo Benazzi

Ao anunciar Vágner Benazzi como novo treinador, a diretoria do Vitória ouviu muitas críticas. Muitas inclusive, bem fundamentadas. Seria ingênuo imaginar que, mesmo a  atrapalhada diretoria rubro-negra não tenha noção do estilo de trabalho do técnico paulista. Me arrisco a dizer que, foi justamente por conhecer como trabalha Benazzi que Alexi o contratou.

Não apenas pelos acessos que ele já conseguiu em sua carreira. Não apenas pelo estilo bonachão, de unir o grupo em torno de um objetivo, de proteger seus comandados mesmo nos momentos difíceis. O próprio estilo de jogo, influenciado e complementar às características fora de campo parecem ser o que a diretoria precisa.

Final do primeiro turno, sem tempo para acertar o time e com jogadores estreando e sendo contratados, Benazzi faz o básico. Arruma o time com um losango no meio, sendo que os apoiadores jogam bem recuados, sem se apresentar muito para o jogo. Isso evita que o meio fique exposto a contra ataques - mas também isola muito o jogador da armação - Lúcio Flávio no caso. Os laterais podem subir sem a bola [um de cada vez, pois o primeiro volante não recua seu posicionamento], especialmente Nino que possui mais velocidade e uma vigilância mais canina de Neto Coruja. Marquinhos se movimenta com liberdade, flutuando mais pelo lado esquerdo, para criar o balano ofensivo. Neto Baiano faz o pivô, porém não fica fixo na área, caindo muitas vezes pelos lados para abrir espaços.
Times de Benazzi tendem a deixar meia armador isolado. É preciso um jogador de movimentação - não é o caso de Lúcio  Flávio


O meio se aproxima pouco da zona de criação. Isso acontecia também com o Bahia de Benazzi. O time abusa das bolas longas, tem pouca posse e um estilo feio de jogar. Mas é um estilo. Não significa que não tenha padrão tático. O padrão tático que é feio. Não se expõe muito, mesmo em jogos fáceis. Bolas longas nas costas da defesa costumam funcionar com um atacante forte e outro rápido. O pivô segura os zagueiros e sobra espaço pra correr nas costas dos laterais. Contra o Asa, foi o próprio Neto que se deslocou e achou espaço para finalizar após lançamento de Uelliton.

O efeito positivo é a zaga sempre protegida. Laterais não sobem simultaneamente e o primeiro volante faz a função de limpador de pará brisa. O que vai ajudar a melhorar o pífio desempenho defensivo do rubro-negro. As alterações não mudaram o sistema tático do time, mas a entrada de Mineiro fez com que Fernandinho fizesse a diagonal mais vezes para preencher a armação do meio. O segundo tempo foi abaixo da crítica, algo recorrente nas equipes de Benazzi, especialmente quando tem vantagem no placar.

O torcedor do Vitória terá que se acostumar a o estilo Benazzi: Triunfos na base da correria, futebol pouco vistoso, bolas longas, entrega em campo - a cara da segundona. Não é à toa que os êxitos dele se resumem a divisões inferiores. O problema é que precisará de um desempenho acima da média no segundo turno, ou seja, terá que vencer os difíceis jogos contra os adversários diretos [no primeiro turno venceu apenas Sport e Americana]. É caprichar nos ingredientes porque a fórmula, Benazzi tem de cabeça.



Angioni e os bad boys

Quando assumiu o comando do departamento de futebol do Bahia, em abril de 2010, o psicólogo Paulo Sérgio Scudieri Angioni sabia o tamanho do desafio. E traçou, além das metas a serem alcançadas, alguns pilares que norteariam essas metas: Reinserção do clube no mercado de transações, revelação de jogadores das divisões de base, captação de recursos através da recuperação da imagem do clube, profissionalização do futebol e reestruturação das instalações físicas. Mais de um ano depois o clube colheu bons frutos, mas alguns percalços ainda desafiam a capacidade do manager.
Em um ambiente tão competitivo e com um mercado tão inflacionado e dominado pela atuação de empresas de "marketing esportivo", o gestor sabe que o caminho pelo sucesso passa pela cooptação de bons jogadores disponíveis no mercado. Promessas sem oportunidade, jogadores de clubes pequenos e medianos em ascensão e bons jogadores com histórico extra campo não muito recomendado são os alvos mais prováveis. Assume-se um risco presumido avaliando o ganho técnico. Mas este ano já são três jogadores com contrato rescindido devido a fatores extra campo.

O Cruel
Quando agrediu o gerente de futebol André Araújo, Jael encerrou um ciclo marcado por decisivos gols, idolatria e polêmicas. Desde sua primeira vinda frustrada [preferiu embarcar para o Cruzeiro], sua saída para Suécia, a novela da repatriação e as constantes especulações envolvendo sua saída do clube - sempre temperadas pela atuação do seu agente Adriano Spadotto - as relações com a diretoria sempre foram azedas. Angioni aceitou o retorno do atacante pois sabia da importância técnica do atleta, um centroavante jovem, bom finalizador e forte, algo raro no atual futebol brasileiro. Dentro do clube o comportamento arredio, pouco participativo do atleta era contrastante com a explosividade [nem sempre benéfica] dentro de campo. Mas os gols, a participação decisiva no acesso de 2010 mantinham Jael no clube e mesmo com a renovação de contrato desejada pelo atleta não saindo, a agressão que resultou em seu desligamento foi considerada surpreendente. A blindagem do departamento de futebol começava fazer efeito.

O Ébrio
Sem ter atuado junto com Jael devido a problemas burocráticos o meia Ramon era uma das grandes promessas do time no primeiro semestre. Apesar do talento latente no trato com a bola, passagens frustradas por grandes clubes traziam à tona a incapacidade do jogador em conciliar uma vida desregrada com os compromissos exigidos pela profissão. Em campo, se muitas vezes mostrava qualidade como no clássico pelo estadual vencido pelo Bahia, fora dele estava cada vez mais integrado a doce rotina de festas soteropolitanas. O pífio desempenho físico, as contusões incuráveis e a indolência nos treinos minaram a relação com torcida e comissão técnica. O problema com o alcoolismo, divulgado nos estertores de sua passagem foi  a gota d'água. Apesar do apoio do clube, Ramon não parecia determinado a se tratar.

O Maluquinho
Situação que parecia ser oposta a de Jóbson. Desde sua chegada, surpreendeu a todos a vontade demonstrada nos treinos, a alegria nas entrevistas e concentrações, o empenho em campo a disponibilidade em se expor a monitoramentos. A proximidade do julgamento no CAS criava um clima tenso, que preocupava o atleta porém o mantinha alerta. Essa parecia ser a questão. Após a viagem a Suiça, mesmo sem o resultado do julgamento, começaram os indícios da personalidade difícil que colocou um grande atleta à beira do banimento. A evolução do problema acabou por resvalar no desempenho em campo. Extremamente individualista, excessivamente nervoso, já não conseguia imprimir o ritmo objetivo das primeiras atuações. Ao ignorar ordem de René e cobrar a penalidade contra o Internacional [o indicado era Ricardinho] estava evidente sua dificuldade em manter-se integrado ao grupo. O afastamento teria sido exigido pelos outros jogadores - que não negaram o fato. A precoce separação Jóbson/Bahia entretanto não parece ter feito tão mal ao time, e ainda manteve a imagem do clube preservada.

O fato é que foram contratações balizadas pelo ganho técnico que poderiam incorporar, mas que não aconteceriam se os atletas não apresentassem "riscos". Seria difícil imaginar Carlos Alberto e Ricardinho no Bahia a três anos atrás. Isso indica uma nova posição do clube no cenário nacional mas também, uma responsabilidade grande em lidar com individualidades tão instáveis em um ambiente que precisa ser coletivamente forte. O desafio de Angioni é manter a "blindagem" do departamento de futebol e evitar que os pequenos desvios atrapalhem o projeto do clube. Para funcionar em campo, é preciso estar tudo tranquilo nos bastidores.






sábado, 20 de agosto de 2011

Protagonista ou coadjuvante?

Durante entrevista ao programa Arena SporTV, pouco antes do jogo contra o São Paulo, René Simões defendeu o uso da marcação individual em cima dos destaques da equipe adversária como forma de anular as principais articulações do oponente. E como tenho observado aqui no blog, o Bahia tem feito uso recorrente deste recurso na série A.  E tem sofrido com as consequências negativas deste tipo de marcação: Falta de opções de jogo, espaço excessivo no meio campo, comportamento reativo, descompactação dos setores. Como os resultados não tem sido satisfatórios, René parece ter abandonado a estratégia.

Contra o Palmeiras, apesar de um novo empate, o Bahia apresentou outro comportamento. Sem os compromissos com a marcação individual, Fahel e Marcone apresentaram-se mais para o jogo. O time não preocupou-se apenas em anular o Palmeiras e esperar o contra ataque. A marcação na defesa foi setorizada, com Marcone acompanhando Valdívia apenas pelo espelhamento tático. O time sofreu com finalizações de fora do time paulista, fruto dos espaços que resultaram da intensa movimentação de ataque dos palestrinos, especialmente de Maikon Leite e Kléber, apesar deste último não estar em boa fase técnica.

A entrada de Diones foi benéfica. Preencheu bem os espaços do campo  e se movimentou com inteligência, aparecendo bem na frente. Falta finalizar melhor. Junto com Carlos Alberto dá ao time a dinâmica e intensidade que René tanto deseja. O comportamento do time melhorou muito, entretanto as laterais continuam deixando a desejar. Mesmo contra um fraquíssimo Gerley, Marcos não conseguiu produzir e Ávine tomou um passeio de Cicinho. O lateral esquerdo está claramente longe de sua boa condição clínica, algo fundamental para devolver a confiança necessária para por em prática sua vocação ofensiva.

Contra o Santos o Bahia precisará decidir é a sua real condição neste campeonato. O protagonista que a torcida espera ou o coadjuvante com lampejos no campeonato.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A postura ideal

Anunciada a escalação do Bahia para enfrentar o Inter, era nítida a aprovação da torcida com o time. Nas redes sociais, nas conversas de arquibancadas enquanto assistiam o VT da conquista do bicampeonato, o sentimento era o mesmo: Este é o time! Sem Marcos, com Ricardinho e Carlos Alberto no meio, sem Júnior ou Souza no ataque, é um time para vencer, convencer e embalar - ainda mais contra um combalido Inter.
Bastaram 45 minutos para abalar toda a fé tricolor. Sim, porque o primeiro tempo da equipe mandante foi sofrível, o pior em Pituaçu nesta série A. Apesar da mesma escalação que antecipei aqui, o comportamento coletivo foi muito abaixo do esperado. A repetição de uma estratégia inadequada às características dos jogadores, travou de vez o time.
Linhas recuadas permitiram que o Inter trocasse passes na intermediária e buscasse o jogador de referência. Tinga movimentou-se com liberdade e comandou transição ofensiva no 1º tempo.

René Simões não abre mão, mesmo atuando em Pituaçu, de jogar no contra ataque. Exceção feita ao jogo contra o Atlético-GO - onde esteve com o cargo ameaçado - em todos os outros confrontos  a postura da equipe foi a mesma: Marcar a partir da própria intermediária, oferecer posse de bola e campo ao adversário para explorar os erros e o espaço para transição ofensiva em velocidade. Às vezes, recorrendo a marcação individual dos destaques do oponente [não ocorreu no domingo]. Essa estratégia pode funcionar - jogando assim o Dragão derrotou o Santos com autoridade no meio de semana Mas existem diferenças fundamentais que fazem a estratégia ser adequada aos goianos e pouco efetiva com os baianos:

- Meia com característica box-to-box¹ - No Atlético, Bida tem feito essa função exemplarmente. Marca forte sem a bola, mas se aproxima com qualidade e cadência com a bola, para armar e finalizar. Ninguém no Bahia faz essa função. Ricardinho possui a cadência, mas não se aproxima. Carlos Alberto possui qualidade e força, mas falta ritmo, e os volantes não tem qualidade. Fica um espaço sem preencher e falta velocidade e infiltração pelo meio. A transição fica restrita às laterais;

-Atacante que faça pivô e segure a bola - Anselmo tem sido a referência necessária, para a função. Movimenta-se sem a bola, espera a chegada dos companheiros, abre espaços na defesa e finaliza quando tem oportunidade. No Bahia Jóbson tem movimentação e qualidade, mas é individualista.  Reinaldo finaliza bem mas movimenta pouco e não segura a bola. Júnior e Souza não tem conseguido dar sequência às jogadas nem prender a bola no ataque. Na prática, a bola pouco fica no campo ofensivo, num eterno bate-volta que mina a defesa.

Curiosamente, sempre que está em desvantagem no placar, ou precisa construir o resultado, o Bahia adianta suas linhas. Com os meias atuando mais próximos da grande área adversária, o time melhora a troca de passes e a posse de bola. O próprio René admitiu que as linhas do time estavam recuadas demais, citou que os laterais marcavam muito atrás - prejudicando a atuação de ambos, que atuam melhor a partir do meio, como alas. Muito mais importante que a discussão sobre a utilização de dois ou três volantes é a distribuição do time e a postura em campo.

Apesar do primeiro tempo sofrível, é de ressaltar que os meias estiveram bem quando a equipe se posicionou mais convenientemente em campo. Os laterais também subiram de produção. Passou da hora de René reavaliar a forma de atuar da equipe. Afinal a postura tática da equipe serve para  potencializar as qualidades dos jogadores, não para legitimar as convicções do técnico.

Positivo: Jones e Lulinha entraram muito bem. Ajudou o fato da equipe ter adiantado o posicionamento, mesmo assim, a movimentação de ambos contagiou o time.

Lamentável: Thiego teve uma atuação deplorável. Perdeu todas para Leandro Damião, e tomou vários puxões de orelha de Paulo Miranda por não antecipar as jogadas. Fabinho jogou muito mal também - independente da expulsão. Reinaldo pouco participou do jogo [recebeu apenas 11 bolas], muito apático. Ávine errou 9 de 32 passes, quase um terço! É o pior neste quesito.

Satisfatório: Lomba e Miranda, sempre bem. Carlos Alberto participativo com desarmes, dribles, protegendo a bola, conquistando a torcida. Ricardinho não tão bem como nas últimas partidas, mas muito importante nas viradas de jogo.


Box-to-box¹ é uma referência ao jogador que faz, no meio-campo central, o “vai-vem”. Box significa área, em inglês, portanto a tradução é “de área a área”. A imagem é claríssima: o jogador que sem a bola posiciona-se defensivamente à frente da própria área, e quando a equipe recupera a bola aproxima-se dos atacantes, nos arredores da área adversária. Atuar nos dois campos é prerrogativa básica desta tática individual.

sábado, 13 de agosto de 2011

Problemas complicam tarefa do Inter

Muitos desfalques, improvisação, um técnico interino de saída e desentrosamento nos três setores. Os problemas que o Inter terá que administrar no confronto deste domingo, fazem com que os problemas do Bahia - a discussão entre Carlos Alberto e Jóbson e o atraso deste último ao treino - sejam irrisórios.
O principal problema dos gaúchos é na lateral esquerda, onde um garoto, Zé Mário, volante de origem será improvisado pelo lado esquerdo. Acredito que René escalará Gabriel para aproveitar o espaço no flanco. Assim Fabinho ficaria encarregado de acompanhar o setor onde Jô costuma recuar um pouco e se alinhar com Tinga e Ricardo Goulart [provável substituto de Andrezinho], numa variação que evolui para 4-4-2 em losango quando o time tem a posse de bola - o time se comportou desta maneira contra o Independiente. Os confrontos individuais ficarão bastante nítidos e neste panorama o Bahia pode se aproveitar dos desfalques do adversário.
Inter varia do 4-2-3-1 sem a bola para 4-4-2 em losango com a bola. Confrontros individuais serão decisivos. Bahia com vantagem nas laterais.

A articulação com Jóbson-Ricardinho-Ávine pelo lado esquerdo, e Carlos Alberto-Gabriel-Reinaldo pelo lado oposto são opções visíveis que devem aproveitar a falta de entrosamento do meio campo colorado. A movimentação da dupla de ataque tricolor será fundamental para abrir brechas na experiente, porém lenta zaga gaúcha.
Acredito que não haverá marcação individual na defesa neste confronto, apenas atenção da zaga com Leandro Damião, e de Fabinho com Jô [por setor] e Fahel em Goulart [também por setor].
Um dia inspirado dos principais jogadores do esquadrão certamente construirá o triunfo. As perspectivas são favoravéis.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Tática X Estratégia

Sou um esforçado enxadrista. Fui um esforçado peladeiro. Futebol e xadrez, distintos por natureza, possuem dois conceitos que permeiam as ações no tabuleiro/grama: Estratégia e tática. No xadrez antes do jogo é preciso definir mentalmente qual estratégia será adotada. Os movimentos táticos dependem dessa estratégia e, lógico poderão variar de acordo com a "resposta" do oponente. Sem estratégia definida, os movimentos não serão coordenados e fatalmente você cairá numa posição em que não saberá qual movimento fazer logo depois.
No futebol, de forma análoga, o mesmo pode ocorrer. A estratégia da equipe, entretanto, independe do sistema tático escolhido. O time pode adotar uma postura mais ofensiva ou defensiva, ou mudar o sistema de marcação durante o confronto. Mais ligada às táticas individual e de grupo, a estratégia leva em consideração a movimentação dos jogadores na marcação (cobertura, antecipação); na articulação (antecipação, criação de espaços, formação de linhas de passe); e a característica dos atletas. Times que se enfrentam com o mesmo esquema tático podem ter estratégias diferentes.


Os últimos jogos de Bahia e Brasil são exemplos práticos de mudança de estratégia. Pressionados pela necessidade do resultado, René e Mano alteraram drasticamente a postura de suas equipes, mantendo o mesmo esquema tático. O primeiro obteve sucesso, o segundo não. Enquanto René migrou de uma estratégia de marcação em seu próprio campo, individualizada nos destaques do adversário, abrindo mão da posse de bola para explorar o contra ataque, Mano fez o caminho inverso. 
Hora de mudar, Mano. Ou não?
Contra a Alemanha abdicou que tudo aquilo que pregou como pilar para seu trabalho na seleção: O protagonismo, a manutenção da posse de bola, a proposta de jogo, ditar o ritmo da partida,  foram deixados de lado para adotar o mesmo estilo do seu criticado antecessor. Fazê-lo logo após o fracasso da Copa América mostrou seu apego ao cargo, e a falta de confiança em suas escolhas. Dunga pelo menos, não atirava seus comandados à cova dos leões, como Mano fez com Hernanes e parece que fará com André Santos.


Quem também não age assim é René. Preserva Marcos, apesar da falta de capacidade do lateral e da urgente necessidade de contratar para posição. Contra o Atlético-GO, no mesmo 4-3-1-2 da derrota para o São Paulo, outro Bahia esteve em campo. Não foi uma atuação inesquecível - pelo contrário, foi muito vacilante em momentos importantes do jogo - mas foi uma equipe ciente que precisava determinar o ritmo do jogo. Não houve marcação individual, e Lulinha finalmente jogou mais próximo dos atacantes, muitas vezes abrindo pela direita. Sobrou espaço para Ricardinho, que está imprimindo o seu ritmo cadenciado à forma de atuar do meio campo tricolor. Só para ilustrar, a equipe trocou 315 passes no último jogo, próximo dos 317 contra o Figueirense e muito mais que os 266 contra o Coritiba [Ricardinho no banco]. Tão importante quanto, foi o índice de acerto destes passes: Neste jogo 83,5%, o maior do Bahia no campeonato [neste item equipe é melhor apenas que o Avaí].


Estratégia agressiva em casa é definitiva?
Com menos desarmes e com mais troca de passes, equipe parece se equilibrar. Não encanta, mas é eficiente - algo que faltou durante maior parte do campeonato - e poderia ter sido menos ameaçada caso acertasse mais finalizações. Próximo domingo René terá uma grande oportunidade de provar se a mudança de estratégia foi algo planejado ou meramente ocasional. Mudanças de ocasião, como provou Mano, não costumam dar certo. Não saber o que fazer na próxima jogada é o primeiro passo para sofrer um xeque-mate.


Nota¹: Dados do Datafolha
Nota²: Em pesquisa motivada por questionamento do colega Vítor Rocha, constatei que 7 dos 20 gols sofridos [35%] pelo Bahia foram no terceiro quarto do jogo [início do segundo tempo]. Em geral, isso foi motivado pela não mudança de postura da equipe após o intervalo, sendo surpreendida pelo adversário, que mudou de estratégia. É necessário estar preparado para anular essas mudanças.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Bate-pronto: SPFC 3 X 0 Bahia

Sete erros capitais:

1) Falhas individuais - Erro de Marcos na marcação, cobertura de Diones resulta em falta, falta em pênalti, pênalti em gol. Zagueiros na área, marcos acerta ÚNICO jogador na barreira, Ávine perde tempo de bola, contra-ataque gol. Mais uma saída errada de bola [agora Titi], gol de Lucas. Em um campeonato de nível não se pode errar tanto em um único jogo;

2) Estratégia incompleta - Marcação individual dá resultado, basta os setores da equipe jogarem compactos quando o time tiver a posse de bola. Se não funcionar assim, qualquer marcação será ineficiente. Bahia quebrou a troca de passes são-paulina, mas faltou fazer o seu jogo quando teve oportunidade. Quando Fahel abandonou a marcação de Lucas na segunda etapa - porque o Bahia abdicou desse tipo marcação - meia cresceu de produção;

3) Atuações pífias - Reinaldo, Ávine, Diones  e Lulinha [esse melhorou na segunda etapa] não desenvolveram o mínimo que se esperava deles;

4) Erros de conclusão - Bahia finalizou mais, só que finalizou mal. Trabalhou pouco as jogadas e não soube aproveitar os espaços, nem quando teve um jogador a mais;

5) Arbitragem - A derrota independe disso, mas o critério diferenciado para os lances de pênalti na área ficou evidente. Não foi determinante, mas prejudicou;

6) Erros de passes- Equipe segue com indíce alto de erros, da saída de bola até área de criação. Jogadas não tem sequência;

7) Laterais em baixa - Para uma equipe que aposta tanto na lateralização das jogadas, o deserto de ultrapassagens, combinações e infiltrações pelos lados deveria fazer o técnico repensar o sistema. E mais opções de qualidade são necessárias. Diretoria precisa contratar para o setor.

Dagoberto aproveitou erros individuais da defesa e brilhou no Morumbi

Pré-Jogo: Bahia X São Paulo - A diferença pode ser o "número 1"

Logo após a conquista do tetra, assumindo a condição de técnico da seleção brasileira, Zagallo causou estranheza ao definir o esquema tático que iria adotar no time canarinho. Era o 4-3-1-2, em que a novidade ficava por conta do "número 1", elo de ligação entre o meio e o ataque. Um jogador capaz de compor a marcação no meio campo, fazer a ligação com o ataque e ele próprio atacar. Djalminha, Juninho Paulista e Giovanni foram testados na função sem sucesso. Quando estava prestes a abandonar a idéia do esquema, às vésperas da Copa, Rivaldo assumiu a posição, a camisa 10 e foi destaque, apesar do vice campeonato.
Ele é um camisa dez versátil. Pode decidir

Exatos 13 anos depois [olha o Zagallismo!] o esquema 4-3-1-2 é o mais usado pelas equipes da primeira divisão. E Rivaldo, que viabilizou o esquema em campo, é um dos jogadores que possui características mais completas para função.

Com grande capacidade de articular passes e infiltrar para concluir, Rivaldo faz um revezamento de posições com Dagoberto, movimentando-se do centro ao lado esquerdo, em diagonal ou linha reta buscando espaço às costas dos zagueiros. A técnica apurada, aliada a boa capacidade física e à versatilidade [foi campeão do mundo em 2002 como atacante], fazem do pernambucano uma referência naquela zona do campo.

Seguindo a receita de atuar do Bahia em confrontos espelhados, Fahel deverá exercer uma marcação individualizada no 10 são-paulino. Muita gente não gosta, mas esse tipo de marcação evita que seja explorado o espaço entre os laterais e a zaga, algo recorrente no Bahia, pois os alas são muito ofensivos. Assim a dupla de zaga não fica muito exposta. O aprofundamento de Fahel na marcação, entretanto, não configura alteração tática, apenas uma movimentação de jogo para anular uma situação.
Movimentação garante muitas variações de jogadas ao SPFC. Time é o que mais troca passes no campeonato.

A volta de Diones ao time, bastante celebrada por René é compreensível e  acertada. O apoiador tem papel fundamental no esquema, devido a sua intensa movimentação. Não possui a qualidade de passe de Ricardinho, e precisa vencer a timidez e aproximar mais da área adversária, mas cria muitas opções para saída de jogo e estabilidade ao sistema de marcação. Pode atuar como meia - jogava assim no Bahia de Feira - e dividir a responsabilidade de segurar a bola no ataque com Lulinha. Neste jogo porém, haverá uma responsabilidade grande pois o espelhamento tático indica um confronto individual com Lucas. O meia da seleção brasileira joga aberto pela direita, recuando para buscar o jogo. Caberá a Diones anular essa movimentação.

O lateral esquerdo Juan apoia bastante - enquanto Piris deverá fazer um papel de lateral base, especialmente com Jóbson caindo no seu setor - o que deve conter o ímpeto de Marcos, especialmente sem a posse de bola. Wellington deverá aparecer mais para o jogo que Carlinhos Paraíba por conta disso.
Contra o time que mais troca passes no campeonato [323,5] e com maior índice de acertos [86,1%], o Bahia precisará ser incisivo quando tiver oportunidade. Dessa forma Atlético-GO e Vasco arrancaram bons resultados no Morumbi. O São Paulo não tem jogado mal,  mas não tem conseguido transformar o volume de jogo em resultado prático.
Meia é a aposta de René pro jogo

A opção por Lulinha, em detrimento de Ricardinho, é uma opção plausível para o estilo que o Bahia quer imprimir ao confronto. Velocidade na transição pra explorar os espaços defensivos, o que, de saída não seria possível com Ricardinho. O meia esquerda é uma opção para a segunda etapa, quando o Bahia pode precisar de mais cadência e de uma bola mais alongada.

Lulinha fez suas melhores apresentações atuando ou aberto na direita, ou como "número um" encostando no ataque. Perto da área ele pode potencializar a sua velocidade, infiltrar e criar espaços. Falta concluir melhor. No confronto com o primeiro "número um", Lulinha pode buscar a inspiração necessária para desempenhar a função com perfeição, e ajudar o Tricolor de aço a conseguir um resultado positivo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Olho No Lance - Bahia X Figueirense

"A melhor forma de vencer é ter a posse de bola. O adversário passa a te respeitar e a se preocupar com seus jogadores". A frase de Ricardinho, após o triunfo contra o Figueirense, mostra a lucidez do camisa 80, não apenas em campo. A evolução - ainda pequena - na forma de equipe atuar, deve-se muito a atuação do meia, como vértice esquerdo do losango, conforme antecipei no pré-jogo. Atuando mais como organizador que apoiador, ajudou a elevar o número de passes trocados pela equipe [317] em relação à média no campeonato [267,3]. O número de desarmes entretanto [124], manteve-se alto, comprovando que a falta de um jogador mais marcador no meio não é essencial como parece. Marcando na sua própria intermediária, como faz o Bahia, os desarmes concentram-se nos zagueiros, que vivem fase iluminada.
A jogada do segundo gol ilustra como a presença do pentacampeão é importante para aumentar as alternativas de jogadas.
Movimentação de ataque permitiu espaço às costas dos zagueiros. Infiltração do lateral pelo meio é jogada antiga mas faltava qualidade no passe que vem do meio.
A infiltração de Ávine pelo meio é uma característica pouco aproveitada pelo esquema anterior. Era frequente na série B 2010, quando o atacante pela esquerda -Michael Jackson - segurava a marcação do lateral adversário e abria o corredor diagonal. Tarefa que coube a Jóbson e conjugada com o lançamento preciso de Ricardinho, resultou no gol que deu tranquilidade à equipe na segunda etapa.
Ainda falta muito pra atingir um patamar que dê estabilidade ao time. Compactar os setores, acertar a marcação, melhorar o índice de bolas trocadas e acerto de passes é fundamental. Mas há sinais de evolução com essa nova formação, especialmente quando Carlos Alberto puder atuar conforme o que se espera dele, com forte recomposição pelo meio e movimentação para abrir espaços. Pelo menos atuando em Pituaçu, com a necessidade de construir o resultado, esse é o caminho mais indicado.