domingo, 28 de agosto de 2011

Angioni e os bad boys

Quando assumiu o comando do departamento de futebol do Bahia, em abril de 2010, o psicólogo Paulo Sérgio Scudieri Angioni sabia o tamanho do desafio. E traçou, além das metas a serem alcançadas, alguns pilares que norteariam essas metas: Reinserção do clube no mercado de transações, revelação de jogadores das divisões de base, captação de recursos através da recuperação da imagem do clube, profissionalização do futebol e reestruturação das instalações físicas. Mais de um ano depois o clube colheu bons frutos, mas alguns percalços ainda desafiam a capacidade do manager.
Em um ambiente tão competitivo e com um mercado tão inflacionado e dominado pela atuação de empresas de "marketing esportivo", o gestor sabe que o caminho pelo sucesso passa pela cooptação de bons jogadores disponíveis no mercado. Promessas sem oportunidade, jogadores de clubes pequenos e medianos em ascensão e bons jogadores com histórico extra campo não muito recomendado são os alvos mais prováveis. Assume-se um risco presumido avaliando o ganho técnico. Mas este ano já são três jogadores com contrato rescindido devido a fatores extra campo.

O Cruel
Quando agrediu o gerente de futebol André Araújo, Jael encerrou um ciclo marcado por decisivos gols, idolatria e polêmicas. Desde sua primeira vinda frustrada [preferiu embarcar para o Cruzeiro], sua saída para Suécia, a novela da repatriação e as constantes especulações envolvendo sua saída do clube - sempre temperadas pela atuação do seu agente Adriano Spadotto - as relações com a diretoria sempre foram azedas. Angioni aceitou o retorno do atacante pois sabia da importância técnica do atleta, um centroavante jovem, bom finalizador e forte, algo raro no atual futebol brasileiro. Dentro do clube o comportamento arredio, pouco participativo do atleta era contrastante com a explosividade [nem sempre benéfica] dentro de campo. Mas os gols, a participação decisiva no acesso de 2010 mantinham Jael no clube e mesmo com a renovação de contrato desejada pelo atleta não saindo, a agressão que resultou em seu desligamento foi considerada surpreendente. A blindagem do departamento de futebol começava fazer efeito.

O Ébrio
Sem ter atuado junto com Jael devido a problemas burocráticos o meia Ramon era uma das grandes promessas do time no primeiro semestre. Apesar do talento latente no trato com a bola, passagens frustradas por grandes clubes traziam à tona a incapacidade do jogador em conciliar uma vida desregrada com os compromissos exigidos pela profissão. Em campo, se muitas vezes mostrava qualidade como no clássico pelo estadual vencido pelo Bahia, fora dele estava cada vez mais integrado a doce rotina de festas soteropolitanas. O pífio desempenho físico, as contusões incuráveis e a indolência nos treinos minaram a relação com torcida e comissão técnica. O problema com o alcoolismo, divulgado nos estertores de sua passagem foi  a gota d'água. Apesar do apoio do clube, Ramon não parecia determinado a se tratar.

O Maluquinho
Situação que parecia ser oposta a de Jóbson. Desde sua chegada, surpreendeu a todos a vontade demonstrada nos treinos, a alegria nas entrevistas e concentrações, o empenho em campo a disponibilidade em se expor a monitoramentos. A proximidade do julgamento no CAS criava um clima tenso, que preocupava o atleta porém o mantinha alerta. Essa parecia ser a questão. Após a viagem a Suiça, mesmo sem o resultado do julgamento, começaram os indícios da personalidade difícil que colocou um grande atleta à beira do banimento. A evolução do problema acabou por resvalar no desempenho em campo. Extremamente individualista, excessivamente nervoso, já não conseguia imprimir o ritmo objetivo das primeiras atuações. Ao ignorar ordem de René e cobrar a penalidade contra o Internacional [o indicado era Ricardinho] estava evidente sua dificuldade em manter-se integrado ao grupo. O afastamento teria sido exigido pelos outros jogadores - que não negaram o fato. A precoce separação Jóbson/Bahia entretanto não parece ter feito tão mal ao time, e ainda manteve a imagem do clube preservada.

O fato é que foram contratações balizadas pelo ganho técnico que poderiam incorporar, mas que não aconteceriam se os atletas não apresentassem "riscos". Seria difícil imaginar Carlos Alberto e Ricardinho no Bahia a três anos atrás. Isso indica uma nova posição do clube no cenário nacional mas também, uma responsabilidade grande em lidar com individualidades tão instáveis em um ambiente que precisa ser coletivamente forte. O desafio de Angioni é manter a "blindagem" do departamento de futebol e evitar que os pequenos desvios atrapalhem o projeto do clube. Para funcionar em campo, é preciso estar tudo tranquilo nos bastidores.






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