segunda-feira, 2 de abril de 2012

Treino de luxo

Em entrevista durante a semana o técnico Mano Menezes afirmou, ironicamente, que caso utilizasse os estaduais como parâmetro para convocação, o ataque da seleção seria Souza e Neto Baiano. A declaração revela - além de uma miopia com Nordeste explicitada pela não inclusão dos Gabriéis da dupla Ba-Vi na pré-lista olímpica - o desprezo justificado aos estaduais pelo baixo nível técnico das competições. Pena que tal argumento não seja aplicado ao decrépito campeonato ucraniano.


Finalmente Ciro aproveitou a chance dada pro Falcão
Diferente do comandante canarinho que não precisa acompanhar o Baianão 2012, há quem o faça com gosto - caso deste escriba. Só um certo sadismo para justificar acompanhar in loco um confronto entre o já classificado e desfalcado Bahia e o medíocre Serrano com opções mais atraentes para um domingo ensolarado.


E os primeiros 20 minutos de jogo deram a falsa impressão de que tinha feito a opção correta. Falcão armou o Bahia num 4-2-3-1 interessante com Zé Roberto como armador central, Gabriel pela direita e Lulinha pela esquerda com Ciro  a frente, sem estar preso a referência. Com Lenine e Diones como volantes fechando bem os espaços, chegando a frente e trocando passes verticais, o tricolor imprimiu velocidade e impôs sua melhor qualidade técnica aproveitando os generosos espaços concedidos pela equipe conquistense. 


Bira Veiga, comandante da equipe interiorana, surpreendeu na última hora ao escalar seu time no 3-5-2, promovendo a entrada do zagueiro Williames. Talvez querendo explorar o corredor lateral onde até os ambulantes de Pituaçu sabem que o  Bahia tem dificuldades na marcação. Na prática entretanto, a estratégia expôs defensivamente sua equipe. Com muitos espaços entre os zagueiros e volantes, foi fácil para o quarteto ofensivo do esquadrão envolver os defensores adversários. A movimentação de Ciro deixava os zagueiros perdidos e a transição ofensiva comandada por Gabriel - melhor dos meias novamente - era veloz e objetiva.
Com Gabriel comandando o meio Bahia liquidou o jogo em 20 minutos. Destaque para a movimentação de Ciro, abrindo espaços na mal postada defesa do Serrano


Duas assistências de Gabriel, dois gols de Ciro e outro de Coelho em cobrança de penalti sofrido após infiltração de Lenine - em boa atuação do amazonense - definiram o jogo muito cedo. A facilidade aliada ao desentrosamento e a pouca aplicação de alguns jogadores fizeram o líder do campeonato arrefecer demais. O Serrano adiantou as linhas e passou a incomodar especialmente pela ala esquerda, onde Daniel aproveitava as subidas de Coelho.


A partir daí começou o show de horrores protagonizado pelo trio de arbitragem e pela defesa tricolor. Foram cinco penalidades distribuídas entre Coelho, William Matheus, Danny Moraes e Rafael Donato entre marcadas, não marcadas, anuladas  e confirmada. Detesto falar do assoprador de apito mas o que tal Carigé fez ontem está muito abaixo até do inclassificável nível dos apitadores baianos.


O lateral esquerdo do Bahia segue perdido no posicionamento defensivo. No primeiro gol do Serrano não adiantou para o bote e nem fechou pelo lado oposto, dando espaço a dois atacantes adversários. Houvesse mais qualidade na armação das jogadas, menos passes errados e uma arbitragem mais criteriosa o time do interior teria vazado a meta tricolor mais vezes, face a tarde desastrosa da retaguarda tricolor.


Finalmente na segunda etapa Bira Veiga percebeu que precisava reposicionar sua equipe para aumentar seu volume de jogo. Com e entrada de um meia no lugar do zagueiro Williames,  passou para o 4-4-2 e chegou a equilibrar a posse de bola em certos momentos, devido a queda da força ofensiva do Bahia muito em função da má jornada de Zé Roberto - que pouco produziu como armador central - e de Lulinha pouco à vontade pelo lado esquerdo. 
Serrano migra para o 4-4-2 e equilibra a equipe. Bahia sofre com a pouca inspiração de Zé Roberto e Lenine passa a organizar o time.


É compreensível a busca de Falcão de opções para o esquema. É hora de mexer no elenco e testar. Isso explica as entradas de Madson e Gutierrez. Com dois jogadores abertos para puxar o contra ataque, a equipe era comandada por Lenine que assumiu a função de organizador com as saídas de Gabriel, Lulinha e  a apatia de Zé Roberto O rendimento, lógico, caiu.


A primeira meta de Falcão - o primeiro lugar na fase - foi conquistado com tranquilidade. Resta recuperar jogadores para o elenco [Ciro, Vander] e dar ritmo a outras opções [Gutierrez, Lulinha]. Utilizar como treino de luxo os três últimos jogos da fase. Entretanto, é preciso apenas estar mais focado. Manter a concentração para entrar na fase final com força total.



segunda-feira, 26 de março de 2012

A mensagem do Profeta

Profeta não fazia rir mas fazia pensar
Dentre os 209 personagens que Chico Anysio deu vida, um não tinha como principal objetivo fazer graça. Jesuíno, O Profeta, era encarregado de encerrar os programas do humorista e sempre levava uma mensagem reflexiva, e passava uma imagem meio messiânica falando em tom patriarcal. Entretanto, quem foi a Pituaçu torcer pelo Bahia no confronto contra o Itabuna, saiu mais alegre que pensativo com a atuação do Profeta tricolor.

Souza – que na homenagem que o Bahia prestou ao humorista levou às costas o nome do personagem – destacou-se pelos quatro primeiros gols marcados, a assistência para o tento de Júnior e pela movimentação característica de um autêntico nove. Pela primeira vez com Falcão, o Bahia esteve postado no 4-2-3-1 de início – reforçando a suspeita do blogueiro que esse deva ser o esquema principal do time com os principais jogadores do elenco à disposição. Com Zé Roberto finalmente liberado para atuar desde o primeiro clássico do ano, o técnico lançou um posicionamento diferente do utilizado naquela ocasião. Alinhado com Magno pelo centro e Jones pela direita, Zé atuou com liberdade para infiltrar no ataque, movimentar-se pelo meio e sem preocupar-se com recomposição defensiva. Como atuava em Porto Alegre.
Formação inicial no 4-2-3-1 com Jones na direita. Inversão ocorreu aos 25 do primeiro tempo

Contando com o bom posicionamento e inspiração de Souza o Bahia tranquilizou a peleja logo no início, abrindo boa vantagem de dois gols. O carioca conhece bem a posição, faz o pivô com maestria permitindo aproximação dos meias e dando opções de passe.Não é como parece um jogador parado. Mas precisa da chegada dos jogadores de trás.
Meias com "pés invertidos" abrem corredor para os laterais apoiarem. Zé Roberto já atuou desta forma no Botafogo.

Interessante também foi a inversão de lado entre os meias extremos, com Jones passando para esquerda e Zé Roberto para direita. Esse posicionamento de meia com pés invertidos facilita a infiltração diagonal e abre espaço para o avanço dos laterais. Como o Itabuna não agredia, Madson e Matheus puderam subir com tranquilidade ainda que apenas o primeiro produzisse algo. Em contrapartida, como o 10 tricolor não acompanhava o ala esquerdo interiorano, algumas vezes o flanco ficou desprotegido o que obrigou Rafael Donato a sair para cobertura, mas sem maiores preocupações.
A fragilidade itabunense acomodou o tricolor e foi possível observar a insatisfação de Falcão antes do fim da primeira etapa. Chamou a atenção de Fahel e Lenine – que deveriam fechar mais o meio e encostar no trio de armação -  e orientou Jones, que esteve longe de encantar tecnicamente mas foi aplicado e cumpriu bem sua função tática.

Como diversas vezes neste campeonato, o Esquadrão voltou para a segunda etapa disposto a liquidar o jogo antes dos 15 minutos finais. E assim o fez. Com Magno mais objetivo, distribuindo bem o jogo e movimentando-se com fluidez, as boas combinações ofensivas demoliram qualquer possibilidade de alteração do cenário do jogo. A partir daí, os gols se sucederam e Falcão pode dar ritmo a jogadores como Lulinha e Coelho que serão fundamentais para a sequência da temporada.
Formação final no tradicional 4-2-2-2 com Lulinha na meia direita. Boa alternativa  para ausência de Gabriel.

Com a entrada de Junior, o Bahia voltou ao 4-2-2-2 predominante este ano. Com Souza mais desgastado, o diabo loiro passou a ser a referência e o Caveirão passou a atuar mais estático, distribuindo o jogo. Lenine passou a chegar mais ao ataque e após acertar uma bola no travessão pôde marcar também seu gol num dos lances finais da partida.

Num embate fácil, que mostrou a diferença técnica entre as agremiações, ficou a certeza que o Bahia caminha para encontrar outra alternativa de jogo – algo que faltou nas últimas rodadas. Assim como pregava o Profeta de Chico City, a mensagem que ficou  para o futuro tricolor foi de esperança e otimismo.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Futuro do pretérito

Marcelo, Patrício [Marcone], Alison, Nen e Rubens Cardoso; Leandro, Élton, Ananias e Hélton Luiz [Léo Medeiros]; Beto e Reinaldo Alagoano. Não, esse time não ganhou nada e tampouco deixou alguma saudade na torcida. Mas essa equipe – comandada por Alexandre Gallo – ficou 12 partidas invictas no campeonato baiano de 2009 com 11 triunfos consecutivos. O que isso quer dizer? Aparentemente nada. Mas pode servir de [mau] exemplo ao Bahia de hoje.

A equipe de Gallo encontrou um “encaixe” muito rápido. A partir da segunda partida desandou a fazer gols e acumular grandes atuações. Marcelo virou paredão, Alison e Nen intransponíveis, Élton um volante com qualidade acima da média, Hélton Luiz o xodó e Reinaldp Alagoano o “matador” com o chapéu de pescador da Bamor. Nessa sequência citada acima, um triunfo inconteste de 2 X 0 em pleno Barradão e o início de uma nova era com Pituaço – o caldeirão recém inaugurado.

O final dessa história amigos, todos sabemos. Alison machuca seriamente e o Bahia perde a melhor bola parada e o zagueiro de melhor saída pro jogo. Marcelo, Élton e Rubens Cardoso começam a conviver com problemas físicos e caem de produção. Hélton Luiz mascara de vez e todos descobrem que não passava de um enganador. O ataque Beto – Reinaldo Alagoano se reveza entre caneladas e atuações pífias. A carruagem vira abóbora.

Sem comparar a qualidade dos jogadores nem a competência dos treinadores há muita similaridade entre as situações de 2009 e hoje. O rival tinha um meia experiente e eficiente na bola parada que brilhava nos clássicos [Ramon/Geovanni] e um artilheiro falastrão e caneludo fazedor de gols [Neto Baiano]. Do time atual tinha também Victor Ramos e Uelliton [que não era titular]. Depois da arrancada, o Bahia conseguiu perder a vantagem na reta final com derrotas para Ipitanga e Madre De Deus e deixou a taça mais uma vez no Barradão.

Esse é o temor – não admitido, porém sentido – de boa parte da torcida após as três últimas apresentações do Esquadrão. Vantagem que poderia ser de dez pontos por pouco não virou um [bendita trave] em apenas três rodadas. Cinco das seis últimas decisões entre os rivais foram vencidas na filigrana do regulamento. Falcão já declarou estar ciente. É preciso admoestar o elenco.

Aprender com o passado significa compreender o que começou a dar errado. Quando o “encaixe” acontece muito rápido pode ocasionar essa dificuldade em localizar a raiz do problema. Experimentar em excesso, inverter critérios e apostar em falso implica num retrocesso que pode custar caro. É preciso serenidade.

Tá bom, Lenine foi mal no clássico. Mas voltar com a dupla Fahel-Fabinho é tirar a teia de aranha da prancheta de Joel. Nenhum dos dois encosta com qualidade na frente e sai pro jogo com velocidade. Com os laterais titulares fora, a bola pouco chega ao ataque, pois os meias recuam muito pra buscar o jogo. Sobrecarregados precisam sair de marcação dupla até a área adversária. Ou não rendem, ou se desgastam como aconteceu com Gabriel no domingo.

Fica de olho aberto, Falcão
Tenho pedido insistentemente a saída de Júnior do time. Não participa bem do jogo, segura pouco a defesa adversária e se movimenta com lentidão. Entretanto tem presença de área e finaliza muito, o que é fundamental nestes pastos do interior – onde chuveirar é a melhor solução. Manter ele no Barradão e tirar do jogo de ontem não foi muito coerente. E com Ciro cada vez pior, a camisa 11 parece reservada a Zé Roberto.

A vitória contra o ECPP foi umas das maiores injustiças que já vi em campos baianos. Em que pese a substancial melhora após a entrada de Jones – imaginem! – o Bahia foi medonho. A defesa foi ridícula com o lado esquerdo inexistente e o miolo de zaga frágil. A vitória veio numa improvável subida de Fabinho ao ataque, com o suporte de Jones e o oportunismo de Souza.

Para tentar chegar ao triunfo Falcão demorou a tirar o improdutivo  Magno pra configurar um 4-3-3 da base alta. Com Fahel mais preso Madson teve liberdade para subir, porém jogada decisiva saiu dos pés de Fabinho.
Para retomar o padrão de jogo é preciso soluções para os problemas que ficaram evidentes no Ba X Vi, porém sem desprezar os avanços do trabalho já realizado. Olhar o passado recente não para amedrontar-se, mas para não repetir as mesmas falhas. Basta ter discernimento e estrela. Esta última, como vimos ontem, tá em dia.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Não muda nada. Ou muda?

Último lance do primeiro tempo. Com a bola posicionada para cobrar o tiro livre direto, Giovanni se agacha e, muito concentrado, fala algumas palavras. A cobrança, um minuto depois, sai tão perfeita que bate no travessão antes de entrar. Seria o gol decisivo do clássico que premiaria não apenas a melhor atuação do camisa 10 rubro-negro, como de toda equipe comandada por Cerezo.

É uma leviandade considerar que o jogo foi definido nos erros da péssima arbitragem de Lopo Garrido ou determinado pela má atuação técnica da defesa tricolor. É necessário valorizar o ótimo plano de jogo dos rubro-negros. E principalmente a concentração e capacidade de execução desse plano.

Já havia alertado para o encaixe do 4-2-3-1 com Giovanni de meia central, com Michel e Ueliton como volantes. Sim, porque os volantes tem um papel fundamental nessa dinâmica de jogo, não apenas no combate aos adversários, mas também na saída de bola qualificada e fechando espaços para que os meias não recuem para buscar o jogo.
Com Marquinhos inicialmente aberto à esquerda e Pedro Ken na direita, o Vitória ditou o ritmo durante quase todo o jogo. Acelerou quando quis e cadenciou quando achou necessário. Iniciou o jogo de forma intensa, explorando o corredor esquerdo da defesa tricolor – expediente usado durante todo o jogo – obrigou Fahel a abrir para ajudar Matheus, o que permitiu liberdade generosa para a movimentação de Giovanni e companhia.
Movimentação e inversões no meio fizeram rubro-negro dominar o setor. Liberdade a Nino permitiu subida do lateral e desequilibrou a defesa.

A defesa tricolor não encontrou a fórmula de anular para movimentação do trio ofensivo do adversário. Marcando por zona e com o lateral esquerdo acuado pelas subidas de Nino – que não tinha ninguém a lhe acompanhar – a última linha se perdia nas coberturas e compensações para cobrir os espaços. No primeiro gol, Fahel sai para cobrir com Titi mal posicionado e Rafael Donato perdido. Devia ser ele na marcação de Neto e não Madson [que deveria ficar na sobra por dentro] o que facilitou a conclusão do artilheiro. Lomba, visivelmente sem ritmo, também perdeu o tempo de bola.

A partir dali a equipe mandante percebeu qual seria o caminho mais simples para pressionar o adversário. Lateralizou as ações ofensivas e forçou a jogada aérea. Lenine e Fahel não conseguiam sair pro jogo o que obrigava Gabriel a recuar para armar a partir de trás da linha de meio, diminuindo sua efetividade como a principal peça de transição ofensiva.

Dessa forma o Vitória abriu uma vantagem de dois gols rapidamente e caminhava para controlar a contenda quando, adiantando um pouco a marcação no meio, o tricolor diminuiu o espaço entre os setores e chegou bem ofensivamente. Com a qualidade de Gabriel, o Bahia construiu os dois tentos que recuperaram a igualdade no placar e teve as rédeas do jogo por SETE minutos. Isso mesmo. Durante sete minutos o Bahia dominou e teve chances de até virar o placar. Mas o Vitória recuperou o fôlego, impôs seu ritmo novamente e voltou a dominar a meia cancha.

Falcão – após muito mistério – optou por manter o Bahia no usual 4-2-2-2 com Júnior e Souza na frente, revezando-se na referência e movimentação. Isso obrigou Souza a sair muito da área  e o tricolor perdeu a jogada de pivô que permitia os meias chegarem com espaço para infiltração. Com Júnior nulo em campo, o volume ofensivo caiu drasticamente e a desvantagem numérica no meio oferecia espaço aos volantes do Vitória para iniciar a saída de bola com tranquilidade, facilitando o trabalho dos jogadores do meio.

Com os volantes presos e os laterais inócuos – Madson tímido no apoio e Matheus acuado por Nino – a saída do Bahia se resumia ao trabalho de Gabriel e Morais. O camisa dez tricolor sem a intensidade que o jogo pedia e o garoto tricolor novamente em grande jornada se desdobrando para armar o jogo e chegar ao ataque. Ainda assim, muito pouco para assumir o controle da partida.
Mudanças na segunda etapa não alteraram panorama do jogo. Tricolor seguiu sem forças nas laterais e dominado no meio. Única mudança foi inversão de Marquinhos, depois Rildo, de lado com Pedro Ken.

Com a vantagem no placar o Vitória voltou para o segundo tempo para explorar a vantagem com inteligência. Inverteu o posicionamento de Marquinhos e Ken, para explorar a fragilidade de Matheus na marcação. Falcão finalmente tirou Júnior porém manteve o esquema com Rafael Gladiador no ataque. As entradas de Ávine e Magno também mantiveram o sistema. Mas a saída de Gabriel – com cansaço muscular - praticamente minou qualquer chance de mudança no panorama do jogo. Cerezo também fez trocas pontuais, sem abrir mão do esquema vitorioso.

Venceu quem soube controlar o meio com movimentação e técnica,  impôs o ritmo que lhe convinha e manteve-se focado para executar com perfeição o sistema de jogo. Cerezo sai fortalecido após fase turbulenta, ciente que encontrou a equipe mais adequada ao momento. Falcão precisará ajustar um novo sistema ao bom padrão que deu ao time, qualificando as laterais, fortalecendo o meio ou encontrando outro parceiro de ataque pra Souza.

E um Ba X Vi que não mudou nada no campeonato, sinaliza outras mudanças para o futuro.


sábado, 17 de março de 2012

Em nome da tradição

Em um Ba-Vi desinteressante para classificação do campeonato e cercado de mistério nas escalações, o mais difícil foi falar dos aspectos relacionados exclusivamente ao jogo. Com tanta celeuma fora das quatro linhas, pouco espaço tem sido destinado ao que realmente importa,  - na opinião deste blogueiro - os aspectos técnicos e táticos do confronto.


Apesar disso, arriscarei o pré-jogo. Com treinos secretos e algumas interrogações nas escalações apostarei no bom senso dos treinadores. No jogo do primeiro turno me dei mal na previsão, sendo surpreendido pela postura rubro-negra.


Para o jogo do Manoel Barradas acredito que a chance de acertar a escalação de Cerezo é alta. Após finalmente encaixar os jogadores certos para o seu 4-2-3-1, acho improvável a entrada de alguém para modificar a forma de atuar da equipe. Dessa forma repete-se a formação do jogo contra o Camaçari. Como o tricolor possui mais qualidade no meio que o time do Pólo,  o Leão deve atuar num 4-2-3-1 mais "torto", com Pedro Ken recompondo mais o meio para conter a participação de Ávine. Em certos momentos, o meio irá variar para um losango. Ueliton deve atuar como volante pela esquerda, contendo Gabriel e aparecendo para saída de jogo.


O Bahia deve apostar nas combinações laterais. Falcão ainda procura um jogador capaz de repetir pela esquerda a movimentação de Gabriel pela direita. Magno rende mais centralizado e por ali, deve atuar Morais.


Como Marquinhos joga um pouco mais adiantado na linha de três, Madson deve conter um pouco o apoio - ainda que Lenine deva cair no setor para ajudá-lo. Pela esquerda Matheus deve ter mais liberdade se Ken não atuar aberto. A não ser que Cerezo surpreenda de novo e inverta Marquinhos e Pedro Ken. Pouco provável.
Equipes no mesmo sistema [4-2-3-1] com confrontos bem definidos . Devem futebol do primeiro clássico para resgatar tradição


Souza e Neto terão a missão de servir de referência e segurar os zagueiros até a aproximação do meio. Os laterais não deverão apoiar simultaneamente para evitar que os zagueiros saiam na cobertura e deixem os centroavantes no mano a mano.


Os meias centrais [Morais e Geovanni] jogarão encaixotados pelos volantes adversários. Daí a importância dos outros meias para puxar a marcação e abrir espaço no meio.
Com as equipes no mesmo sistema de jogo, fatalmente prevalecerá quem  vencer os confrontos individuais. A atuação dos meias, mais que nunca, será fundamental.


Espero que dentro das quatro linhas o jogo seja menos conturbado que fora. E que as equipes finalmente mostrem um futebol digno da tradição de 80 anos do maior clássico do Norte Nordeste.

domingo, 11 de março de 2012

Refém do esquema

Uma das tarefas mais difíceis para um treinador de futebol é encaixar o esquema tático que pretende usar com a característica dos jogadores que tem à disposição. É necessário paciência para experimentar, testar e inovar sem tempo suficiente para treinamentos e compromisso com resultados em curto prazo. E quando não se conhece completamente o grupo de jogadores, não há outra solução a não ser recorrer à fórmula tentativa X erro.

A prova desta verdade pode ser vista nos jogos da dupla Ba-Vi nesta rodada. Enquanto no Armando Oliveira Cerezo finalmente conseguiu encaixar o sistema que queria com as características dos jogadores que escalou, em Pituaçu Falcão via sua receita de bolo desandar por não encontrar os substitutos capazes de fazer o sistema que lhe agrada funcionar.
Finalmente o 4-2-3-1 de Cerezo deu liga. Familaridade de Giovanni e Ken com movimentação do esquema facilitou encaixe

Após muitos jogos insistindo com Lúcio Flávio e Arthur Maia como companheiros de Marquinhos numa linha de três meias, Cerezo resolveu tentar aquilo que até as cozinheiras da Toca do Leão sabiam: Para o 4-2-3-1 do treinador mineiro funcionar, Giovanni deveria ser titular. Afinal, o veterano conhece a posição de meia aberto [ou central] desde o tempo em que jogou na Europa. E foi jogando desta maneira que conseguiu suas melhores atuações desde que chegou a Bahia. Com Michel e Uelliton como volantes marcadores – e portanto com menores obrigações defensivas para os meias – Marquinhos [depois Mineiro] na esquerda, Pedro Ken pela direita e Giovanni por dentro, finalmente o meio campo rubro-negro teve posse de bola e volume ofensivo. Com Neto Baiano na referência sem precisar sair pra buscar o jogo, finalmente o encaixe aconteceu. Era tão óbvio que é  lamentável a demora do técnico em perceber algo tão evidente.

Em Pituaçu, o reverso da moeda. Se o 4-2-2-2 de Falcão se mostrava simbiótico com a forma do Bahia atuar, a falta de algumas peças desmontaram a máquina tricolor. Isto porque os jogadores que atuaram hoje não foram capazes de manter a dinâmica de jogo proposta pelo esquema. Diones foi demasiadamente tímido na saída para o jogo o que obrigava Fahel a tentar fazê-lo – sem possuir qualidade para tanto. Júnior manteve sua sequência de péssimas atuações, sendo incapaz de executar o pivô no ataque com a eficiência que Souza emprega e Filipe não adaptou-se à nova posição de meia aberto pela esquerda, sem dar fluidez às jogadas.
Meio campo inócuo na primeira etapa pela falta de chegada dos volantes e pouca  participação dos meias.

Como o ataque não conseguia segurar a bola, o meio não trabalhava a posse e a transição ofensiva ficou lenta, o Juazeiro conseguiu acertar a marcação e anular as opções de jogo do Bahia. Marcando na frente durante a primeira etapa, o time da carranca diminuiu bem os espaços, e bloqueava as subidas de Madson com o bom ala esquerdo Neílson. Do outro lado William Matheus tinha espaço, mas não conseguia produzir algo relevante.

Na volta do intervalo Falcão tentou corrigir a equipe colocando Morais em lugar de Filipe, e o time voltou com a escalação que, imaginava eu, seria o onze inicial. Logo Magno saiu da meia direita – onde atuou pouco à vontade na etapa inicial – e foi para esquerda [também aberto]. Morais centralizou e Madson avançou mais pela direita. Diones atuou mais preso ainda para compensar as subidas do lateral.

E por ali o Bahia poderia até ter conseguido o gol, mesmo sem merecimento. O Juazeiro continuou atuando inteligentemente, explorando os seguidos erros de passe do Esquadrão e mesmo marcando mais atrás, sempre oferecia algum perigo nos contra ataques.

A substituição do ataque era iminente. Péssima atuação da dupla Ciro/Júnior que não costuma ir tão mal quando joga com Souza. A prova irrefutável que o Caveirão é, além de referência tática, referência técnica no atual time. Vander foi atuar no ataque e novamente decepcionou. Testado em praticamente todas as posição do meio para frente esse ano, desde Joel, não consegue dar objetividade ao time e está longe da eficiência que tinha na série B 2010.

Eficiência que é a marca de Rafael Gladiador. Com poucas chances esse ano, o centroavante destaque da Copa SP 2011 já marcou três vezes. É verdade que precisa amadurecer tecnicamente, mas merece mais chances na equipe principal. É oportunista, sabe se colocar na área e tem estrela. Deveria ser o reserva imediato de Souza, na minha opinião.

Com todas modificações o Bahia pouco melhorou. Se com Morais a troca de passes aumentou, a infiltração e triangulações continuaram nulas. Nem Magno pela esquerda, nem Vander se aproximavam de Rafael e o time pouco produzia. Os laterais começaram a subir simultaneamente e os espaços para o contra ataque juazeirense ficaram maiores.
Equipe manteve esquema e ineficiência. Espaços na defesa, pouca intensidade e troca de passes na frente. Oportunismo de Rafael salvou derrota

O gol interiorano poderia ter surgido antes não fosse Rafael Donato que com velocidade e excelente tempo de bola abafou jogada onde estava sozinho contra dois atacantes. Fahel na cobertura ajudou a afastar o perigo. Em outra resposta rápida do Juazeiro, não houve escapatória. Neílson arranca, passa pela cobertura de Diones e avança. Titi vacila, recua e não dá o bote. Com espaço, o ala arrisca o chute e conta com o desvio em Donato para vencer Omar.

Faltando apenas dez minutos para o fim do jogo e com uma atuação medíocre, era difícil acreditar que a invencibilidade de Falcão no comando tricolor não pereceria. Como último recurso, Donato avança à área adversária para tentar o “doble-nove”. A tática - usada pelo Barça com Piqué e pelo Vasco com Dedé - consiste em tornar um zagueiro homem de área para conseguir vantagem numérica e física dentro da grande área. Em centro pela esquerda de  William Matheus, Donato não alcança [e pede pênalti] mas Rafael desvia com consciência do goleiro, empatando o jogo a quatro minutos do final.

O Bahia seguiu tentando a virada no abafa, sem sucesso. Não merecia pelo que produziu. O jogo serviu para expor as dificuldade que Falcão terá quando não tiver jogadores fundamentais para o esquema, como Souza e Gabriel. É bom ter um plano B. Um outro esquema que permita aos substitutos renderem mais.

A rodada de hoje colocou um pouquinho de tempero num Ba-Vi sem muitos atrativos no próximo domingo. Com os esquemas preferidos de seus treinadores encaixados, um embate entre o  Vitória de hoje e o Bahia de duas rodadas atrás, o jogo promete.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Futebol sinestésico

A idade é mesmo implacável. Após três décadas vendo muita coisa boa e outras de envergonhar o Criador, senti a visão embaçar. Logo eu, que sempre tive uma memória fotográfica capaz de reconhecer na rua a prima daquela amiga que apareceu na formatura do meu vizinho – apesar da incapacidade de associar o nome à figura – especialmente quando o decote ou a fenda do vestido atrai minha atenção.


Embaçou e como aquele borrão tendia a aumentar, fui à procura do diagnóstico. Astigmatismo. Ainda que em grau leve, o suficiente para me obrigar a usar a maldita muleta visual para as atividades que muito que me aprazem: Ler, escrever e assistir futebol.

E foi assim que me preparei para uma quarta ludopedicamente promissora. Pus as indesejadas lentes apoiadas nas ventas e iniciei a maratona futebolística. Como entrada para o prato principal, Inter X Vitória pela Copa Rio Sub 17. Jogos nessa categoria nunca são interessantes, é muita correria e pouca produção, mas não foi o que aconteceu na tarde. Os colorados sapecaram um pneu [6X0] fora o baile. Pudera, os Leãozinhos eram 96/97, dois anos abaixo da idade média do torneio. Não entendi o objetivo de levar uma equipe tão nova para um torneio tão forte tecnicamente. Se era para ganhar alguma experiência, parabéns. Os garotos estão experts em buscar a bola no fundo da rede.

Pois este sequer foi o jogo com mais tentos no menu. O prato principal, daqueles de abrir o apetite de qualquer cristão na quaresma, era o sempre palatável Barcelona. Um jogo com cara de favas contadas, face a vantagem conseguida no jogo de ida na Alemanha, mas onde difícil foi contar as favas, ou melhor gols, do trator catalão comandado por uma praga do bom futebol - “La Pulga”. Assistir ao embate em definição HD funcionou como remédio para minhas vistas cansadas, tive a nítida impressão de ver um quadro de Monet se movendo, se transmutando, as cores avivando, os pixels multiplicando e minha debilidade visual sumia enquanto era somatizada pelos defensores alemães, do goleiros à linha de cinco defensiva e mais os volantes e os atacantes que recuaram pra fechar os laterais, o que de nada adiantaria, e mesmo que a torcida do Bayer Leverkusen adentrasse as quatro linhas do Camp Nou seria engolida pela movimentação dos culés e pelos dribles objetivamente infernais do camisa dez. E que bom que ele é argentino! Pois se fosse espanhol os patrícios de Cervantes possuiriam o Santo Graal e reinariam no futebol moderno.

A partir deste momento já me sentia saciado de arte futebolística. Sim, poderia assistir mais dez VT’s de campeonato francês, ou quem sabe uns vinte compactos de segunda divisão marroquina, nada me aborreceria. Não cito o parelho campeonato cipriota, pois o Apoel é o novo Brasiliense europeu. Mas o que estava por vir era um deleite de sobremesa. Um manjar que poucos puderam usufruir instantaneamente devido ao imbróglio Fox Sports-Net-Sky. Nada que um bom link dando SOPA aliado a um cabo HDMI de boa extensão não resolva. Em dois cliques, Santos X Inter na tela do meu bunker.
Tem hora que o futebol é uma pintura

E se Neymar foi inspirado por Messi, possuído por Heleno de Freitas, bafejado por Ronaldo ou introjetou Pelé, pouco importa. Mesmo com a imagem bem menos nítida devido à transmissão via internet, juro que vi um quê de Portinari. Sim por que se Messi-Monet é impressionismo puro – impressiona, embasbaca, deixa uma impressão no vivente – Neymar-Portinari é um expressionista nato, pouco homogêneo, meio surrealista com uma pitada de cubismo, algo que surpreende às vezes a si próprio. “Não sei explicar o que fiz” responde tão intuitivamente frente ao microfone, quanto com a bola nos pés.

E arte não precisa mesmo de explicação. É pura fruição.

Joguei os óculos no lixo. Que se dane o astigmatismo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O charme da copa

Wembley. Final da Curling Cup, 26 de fevereiro de 2012. No último minuto da prorrogação, escanteio para o modesto Cardiff da segunda divisão. Vinte jogadores dentro da grande área do Liverpool, que tinha vantagem de 2 a 1 no placar conquistada cinco minutos antes. Durante os dois segundos que a bola viaja desde o corner, atletas agarram-se a acotovelam-se vorazmente – qualquer soprador de apito tupiniquim teria parado o lance mas na terra da Rainha só não vale dedo no olho – buscando ocupar o melhor espaço para alcançar a pelota e quando ela fica em disputa entre o defensor galês e o atacante dos Diabos Vermelhos – no lance em posições invertidas – a tensão atinge um nível cataclísmico que se transforma em jubileu branco e azul após um empurrão e dois chutes de Ben Turner empurrando às redes a bola e quase o holandês Kuyt por tabela.

Pouco importa para o final da história que o título ficou na Inglaterra após a definição em tiros da marca fatal. O que fica da peleja é a luta dos postulantes a heróis, uma batalha entre galeses e ingleses que guerrearam com a mesma bravura que seus antepassados dedicaram ao rei Henrique V na batalha de Agincourt – se Shakespeare não tiver a nos enganar a tantos séculos.

Esse embromatório todo, nariz de cera que invejaria o Cyrano de Bergerac, é pra demonstrar com um único exemplo, o quão emocionante pode ser um confronto decisivo por uma copa. Copa do Mundo ou Copa Kaiser, FA Cup ou Intermunicipal, confesso: Sou fã do mata-mata [playoff é pra NBA e NFL, aqui é no populacho] e tenho saudade do tempo em que o brasileirão era decidido em uma contenda mortal, num teste cardíaco pra duas torcidas. Pontos corridos? Justiça?  Troco uma tonelada de justiça por meio quilo de emoção. Mas aí já é papo pra um post futuro.

A intenção era falar da Copa do Brasil. Intenção não, vou falar mesmo. A competição vendida por muitos como “o caminho mais curto até a Libertadores” é muito mais que isso. É a competição mais charmosa do país, oportunidade única de pequenas agremiações ombrearem-se aos gigantes, chance de revelações dos mais longínquos rincões da Terra Brasilis.

Esse charme é pra mim o mais relevante nesta competição criada em 1989 para permitir que todos os federados tivessem uma mísera chance de disputar uma competição nacional [o enxugamento do brasileirão em 1986 melhora o índice técnico, mas renega esse direito] já que nem é o caminho mais curto pra copa Santander – a Sulamericana tomou esse posto – e só voltará a ser plenamente democrática ano que vem – quando os times brasileiros da Libertadores voltarem a disputa – o que também dará um upgrade na disputa pela taça.

Maior desafio do Tremendão começa hoje
Quem gosta de moleza então, só tem esse ano. Aqui na Boa Terra vislumbro outra chance real de termos três representantes na segunda fase, repetindo o feito de 1999 quando o Camaçari despachou o Paraná Clube. É que o brioso Tremendão, com as benesses de campeão baiano, enfrentará o Aquidauanense-MS [hã?] com grandes chances de triunfo. Da dupla Ba-Vi o mínimo que espera é que passem a terceira fase. Cair antes disso, admitamos, é vexame.

E nossa Federação precisa mesmo de bons resultados dos seus filiados. No ranking da CBF estamos capengando, tomando sova de goianos, catarinenses, paranaenses e pior, dos rivais-vizinhos pernambucanos. Hora de tomar tenência, herdeiros de Caramuru! [sem rima, cambada].

Porque o charme da Copa do Brasil nunca estará completo até o grito de campeão ganhar um sotaque malemolente.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Joia rara

Time em ascensão técnica versus equipe que necessita do triunfo tal qual um nômade no deserto. O roteiro que se repete ad nauseum pelo mundo afora costuma pregar algumas peças. Mas dificilmente isso aconteceria ontem no estádio Alberto Oliveira. E não aconteceu.

Não aconteceu mesmo com o tabu de único estádio que o visitante jogara e não havia conseguido o triunfo neste campeonato. Não aconteceu mesmo com a possibilidade temerária de relaxamento pela liderança isolada na tabela. Não aconteceu mesmo com as lembranças pouco saudosas de 2008, ano que o visitante mandou seus jogos naquela praça esportiva. Não aconteceu mesmo com o sol inclemente e o gramado indecente que igualam por nível dificuldade o controle de bola e a velocidade da peleja. O sobrenatural do Almeida, a combinação errática dos astros, o imponderável que acompanha o esporte bretão, ontem, na Princesinha do Sertão não aconteceu.

Não aconteceu porque o visitante líder, invicto a 11 rodadas, melhor ataque e aproveitamento da competição não permitiu que acontecesse. O abismo técnico entre os times, previsível e visível costuma sumir nestas condições, pela dedicação extrema do lado do mandante e relaxamento do favorito. Mas o Bahia, com uma atuação inteligente, soube dosar a intensidade do confronto e sem correr grandes riscos controlou a contenda conforme lhe aprazia, suficiente para minar as chances do débil Touro do Sertão.

Tal era a facilidade em ditar o ritmo do match, que a dúvida de quem acompanhava a transmissão da partida, como eu, era de em qual momento o Esquadrão abriria o placar e quem realizaria o feito. Não demorou a aparecer a resposta. Dezoito minutos, Júnior. abre com bela combinação de drible e chute após assistência com as mãos de Madson. O diabo louro, aliás, vem segurando a titularidade graças à eficácia. É decisivo na área com bom aproveitamento nas finalizações. Tecnicamente ainda não agrada e parece deslocado do jogo coletivo do time.

Madson merece um parágrafo a parte. Tem jogado muito bem – ao contrário do que eu tenho lido em algumas publicações – porém é pertinente algumas ressalvas: Não tem jogado com a desenvoltura que atuava nos juniores – e é uma estupidez cobrar isso, jogo profissional é outro ritmo com outra dinâmica de jogo – mas tem sido extremamente seguro na defesa, cumprimento exemplarmente a cobertura por dentro quando o zagueiro sai pra dar combate. Aparece para saída de bola, chega com facilidade no apoio e se posiciona bem na marcação sem a bola. Falta caprichar nos cruzamentos quando chega na linha de fundo, quando o fizer será um lateral completo. O problema é que nos acostumamos a cobrar “laterais-ala” que ataquem todo jogo, muitas vezes irresponsavelmente. No esquema de Falcão alas tem a mesma responsabilidade ofensiva dos volantes. Madson vem amadurecendo muito mais rápido que Ávine, que levou três anos para se tornar um lateral confiável.

Ademais o tricolor da capital controlou o jogo a seu bel prazer e não fosse o arqueiro Rodolpho – inspiradíssimo – o placar teria sido sacramentado já na primeira etapa. Destaque nesta etapa para Magno, novo titular da 10, e para William Matheus que machucou-se justamente quando vivia seu melhor momento no clube. Uma pena.

O Fluminense precisava mudar de postura e mudou. Como é costume das equipes de Ferreira – derrotado três vezes na competição pelo Bahia – após a cancela aberta, time adiantou suas linhas e por certos instantes obrigou o Bahia a ficar mais contido. Isso não evitou que o time da capital chegasse ao ataque em condições de marcar. Vander e Magno desperdiçaram chances bisonhamente, até que a dupla Lenine – Gabriel em boa combinação decretasse o resultado final da contenda.
Menino Gabriel: Sutileza com a 8. Joia rara.

A finalização do menino Gabriel também merece outro parágrafo. Movimenta-se por dentro como meia, infiltra por trás da zaga como atacante, recebe a pelota, visualiza a saída do goleiro, escolhe o canto, dá um toque leve e sutil [ops, ele é camisa 8 também, alô marquetingue do Bahêa] por baixo da bola que encobre Rodolpho e mansamente procura abrigo na grama do fundo do gol antes de resvalar por dentro da rede lateral da meta.

Um gol de quem conhece a bola. Apesar de não ter temporadas treinando fundamentos na divisão de base – como Vander e Magno – Gabriel aprendeu a tratar a redonda em campos de várzea como aquele que chamam de gramado no Jóia.

E pra fazer um gol dessa qualidade num pasto como aquele, tem que ser joia rara.




PS¹: Angione teria pegado o contato do goleiro do Flu. Muito apropriado. Independente da grande atuação de ontem, Rodolpho tem feito um grande campeonato. Só espero que não seja um plano B para a não renovação de Lomba.

PS²: Não fiz análise tática porque o Bahia manteve o sistema dos últimos jogos e a transmissão da TV Bahia muito fechada na bola dificultou a observação do confuso sistema do Flu de Feira. Também acredito que pouco acrescentaria face a facilidade que foi envolvido o time que agora ocupa a penúltima colocação do campeonato.

domingo, 4 de março de 2012

O médico invisível e o campeonato assombrado

Estarrecedora. Demorei muito a encontrar um adjetivo que resumisse a situação descrita na matéria do Correio* assinada pelo amigo Marcelo Santana. A história do médico que talvez seja fisioterapeuta e que assina súmulas de jogos e usa o CRM de outro profissional e até presta serviço a mais de um clube poderia ser também surreal ou vergonhosa. É além de tudo, assombrosa.
O Alberto Oliveira já teve um dos melhores gramados do Brasil.

Quisera fosse um caso isolado de um campeonato que prima pela organização e zelo normativo. Há anos que não temos um campeonato baiano que não termine sem astericos na tabela devido à desorganização e amadorismo dos clubes. O Juazeiro seria rebaixado ano passado, mas o Ipitanga conseguiu perder pontos no tapetão e tomou pra si a vaga da segundona. Assistir ao confronto desse domingo entre Fluminense de Feira e Bahia só atesta que estamos pouco melhores que a várzea. Gramado em estado lastimável, a equipe mais tradicional da segunda maior cidade do estado em caos dentro e fora de campo, desentrosada, em busca de novo gerente de futebol, para um público de 5.475 pagantes - que foi o maior no interior de todo campeonato! – contra um Bahia que não precisou suar a camisa para vencer com facilidade devido ao abismo técnico entre as agremiações.

Tudo isso sobre o olhar conivente e impotente da Federação Baiana da Futebol, que não apenas apoia a permanência de Ricardo Teixeira na CBF como reproduz  o modelo dinástico e personalista de administração. Enquanto os clubes filiados sequer conseguem passar para a segunda fase das divisões mais baixas do futebol nacional, a entidade vangloria-se de contratos assinados com órgãos estatais e cotas mixurucas da TV. Me bata um abacate verde com bastante farinha, por favor!

O bom futebol do Esquadrão de aço  tá assombrando muita gente, mas esse campeonato é aterrorizado por fantasmas piores. De carne e osso.

PS: Peço desculpas a minha dezena de leitores, mas hoje não tem post pra falar do jogo em si.  Amanhã retomaremos com nossa programação normal.

sábado, 3 de março de 2012

Passo e me pico

É comum a ladainha dos treinadores sobre falta de tempo para pré-temporada das equipes, o excesso de jogos e o pouco tempo para treinamento. Fatores que, de fato, atrapalham muito na tarefa de imprimir um padrão de jogo a qualquer time. Mas as duas semanas de trabalho de Falcão no Bahia provam que, acima das dificuldades, os “professores” do futebol brasileiro estão com métodos defasados.

Influenciado pelas observações que fez no Velho Mundo e respaldado pela sua própria vivência de campo, Falcão surpreendeu a todos desde o primeiro dia com uma nova dinâmica de treinamento. Ao invés de rachão recreativo na véspera do jogo – expediente amado pelos boleiros – treino tático. No lugar do coletivo – melzinho na chupeta de jornalista que não presta atenção na atividade – treino técnico agrupando jogadores em espaços compactos. Claro, há espaço para ensaiar bolas paradas, mas também simular situações de jogo como contra ataques e transição ofensiva.

Com o suporte de um grupo extremamente dedicado, e que segue à risca a orientações dos treinadores [foi assim com Joel e René] o resultado apareceu antes mesmo do esperado, admitiu o ex-comentarista. Aqui falo de resultado não apenas em relação a placar, que ajudam a dissecar sobre o novo Bahia, porém não demonstram a mudança radical no estilo de jogo.

Em bate-papo com a imprensa, entre outras revelações, o catarinense radicado em Porto Alegre falou sobre não acreditar ser viável instalar um mesmo sistema de jogo pra todas as categorias de uma mesma agremiação. Importante seria disseminar uma concepção de jogo em todas as categorias. O exemplo do Barcelona, batido pois é justamente o mais cristalino, veio à tona e Falcão voltou a reforçar os conceitos de compactação toque de bola.

No baba pegado é um-dois, pai! 
E apesar de ter melhorado a posse e compactação é justamente o toque de bola que chama a atenção do atual Esquadrão. Longe de ser um tique-taca espanhol, mas com muitas aproximações que lembram o velho futebol brasileiro até meados dos anos 80 [que Falcão conhece muito bem] e também o estilo portenho de ludopédio: Toco e me voy.

Só que aqui na Bahia, terra do baba, tem que traduzir esse palavreado. Sendo o principal destaque do time revelado no campo do Lasca não tenho dúvida: Passo e me pico.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A nova Roma do Rei?

“Pra tomar a posição de volta, Morais vai precisar jogar muita bola” sentenciou o magrinho de boné, camisa tricolor e radinho com fone de ouvido ao meu lado. Todos em volta concordaram, muitos até mais enfáticos. “Magno não sai mais desse time”, “Morais não tava jogando nada”... Enfim. É fato que a torcida do Bahia se empolga rápido demais – isso é bom e pode ser muito ruim – porém não há nada de incoerente nas afirmações. A atuação da equipe contra o Camaçari em Pituaçu deixou a torcida confiante e deu a certeza que algumas titularidades estão bem ameaçadas.

No gol Lomba é titular e não há discussão. Omar – que falhou no gol do Camaçari que abriu o placar – precisa trabalhar a reposição de bola e  saídas de gol. Ainda está inseguro. Mas tem grande reflexo e talento.
Recuperando jogadores do elenco Falcão criou dúvidas sobre titularidades

Nas laterais Coelho e Ávine ainda são titulares. Mas as boas partidas de Madson e Matheus – este último evoluiu muito com Falcão – com bom posicionamento defensivo e boas participações no ataque dão tranqüilidade para o elenco na ausência dos mais experientes. Madson está pronto pra jogar no profissional, chega bem ao ataque, faz a cobertura por dentro [fundamental pra um lateral], só falta mais capricho nos cruzamentos. A dupla de zaga é a atual, a não ser que Gutierrez entre muito bem na equipe. Donato, a despeito da falta de qualidade na saída do jogo, é vigoroso, bom pelo alto e joga sério.

Os volantes devem ser Fahel e Lenine. Fabinho é o reserva imediato de Fahel e Lenine briga pela posição com Hélder. No meio a briga é Morais X Magno e Gabriel X Lulinha. Falcão não deve mudar o esquema, então dificilmente Lulinha jogaria numa linha de três meias como na época de Joel, além de não ter presença de área pra jogar na frente. No ataque Júnior X Zé Roberto e Souza X Ciro. O ex-colorado deveria ser o titular mas a sequência de contusões tem aberto vaga aos outros pretendentes. O pernambucano terá dificuldades em entrar no time pois o Caveirão é imprescindível e Ciro é o único não canhoto, o que dificulta a diagonal curta pela esquerda.

Em relação ao jogo, vale ressaltar a tranqüilidade do time que não se apavarou quando o adversário abriu vantagem logo no início do jogo. O Camaçari surpreendeu com um esquema totalmente diferente de domingo passado. A entrada de Gilberto deixou o time mais solto ofensivamente, com Júnior à frente de uma linha de três meias [Gilberto, Róbson Luís e Dinho] que se revezavam constantemente. Gilberto infiltrava e passava a segundo atacante, configurando um 4-4-2 com meias abertos. Assim surgiu o gol.
O Bahia no seu habitual 4-2-2-2 já assimilado pelos jogadores, porém com Magno mais aberto e os volantes bem mais participativos ofensivamente. Lenine por vezes fez o “Box-to-Box” com facilidade pois encontrava espaços no meio. Com Magno e Gabriel inspirados os atacantes foram bastante acionados e as chances de gol se sucederam. O 
Esquadrão virou ainda na primeira etapa com boas combinações ofensivas, triangulações e ultrapassagens. Laterais participativos como no gol de Júnior com assistência de William Matheus, e no gol de Rafael Donato com assistência de Madson.
Camaçari surpreendeu com um 4-2-3-1 bem ofensivo e inversões de posições. Mas deu espaço que os meias tricolores souberam aproveitar.

Na segunda etapa  o Bahia liquidou a fatura em poucos minutos – como está se tornando habitual. Com o time procurando sempre Souza [a referência não apenas tática mas principalmente técnica] e Gabriel atuando ora  como armador, ora como ponta, o Bahia impôs a técnica superior, venceu os confrontos individuais e administrou o resultado. As entradas de Ciro, Filipe e Danny Morais mantiveram o sistema tático do time, com Filipe compondo o meio e dando mais liberdade para Gabriel atuar no ataque. Serviu para Falcão observar a boa técnica do volante que se destacou na Taça São Paulo e que é uma excelente opção para o futuro.

Bahia está tranqüilo com excelente padrão e intensa disputa por posições. As dúvidas são conseqüências do excelente início de trabalho do Falcão, ovacionado pela torcida ao fim da contenda. Será que ele será o “ Rei da Roma Negra”?