Wembley. Final da Curling Cup, 26 de fevereiro de 2012. No último minuto da prorrogação, escanteio para o modesto Cardiff da segunda divisão. Vinte jogadores dentro da grande área do Liverpool, que tinha vantagem de 2 a 1 no placar conquistada cinco minutos antes. Durante os dois segundos que a bola viaja desde o corner, atletas agarram-se a acotovelam-se vorazmente – qualquer soprador de apito tupiniquim teria parado o lance mas na terra da Rainha só não vale dedo no olho – buscando ocupar o melhor espaço para alcançar a pelota e quando ela fica em disputa entre o defensor galês e o atacante dos Diabos Vermelhos – no lance em posições invertidas – a tensão atinge um nível cataclísmico que se transforma em jubileu branco e azul após um empurrão e dois chutes de Ben Turner empurrando às redes a bola e quase o holandês Kuyt por tabela.
Pouco importa para o final da história que o título ficou na Inglaterra após a definição em tiros da marca fatal. O que fica da peleja é a luta dos postulantes a heróis, uma batalha entre galeses e ingleses que guerrearam com a mesma bravura que seus antepassados dedicaram ao rei Henrique V na batalha de Agincourt – se Shakespeare não tiver a nos enganar a tantos séculos.
Esse embromatório todo, nariz de cera que invejaria o Cyrano de Bergerac, é pra demonstrar com um único exemplo, o quão emocionante pode ser um confronto decisivo por uma copa. Copa do Mundo ou Copa Kaiser, FA Cup ou Intermunicipal, confesso: Sou fã do mata-mata [playoff é pra NBA e NFL, aqui é no populacho] e tenho saudade do tempo em que o brasileirão era decidido em uma contenda mortal, num teste cardíaco pra duas torcidas. Pontos corridos? Justiça? Troco uma tonelada de justiça por meio quilo de emoção. Mas aí já é papo pra um post futuro.
A intenção era falar da Copa do Brasil. Intenção não, vou falar mesmo. A competição vendida por muitos como “o caminho mais curto até a Libertadores” é muito mais que isso. É a competição mais charmosa do país, oportunidade única de pequenas agremiações ombrearem-se aos gigantes, chance de revelações dos mais longínquos rincões da Terra Brasilis.
Esse charme é pra mim o mais relevante nesta competição criada em 1989 para permitir que todos os federados tivessem uma mísera chance de disputar uma competição nacional [o enxugamento do brasileirão em 1986 melhora o índice técnico, mas renega esse direito] já que nem é o caminho mais curto pra copa Santander – a Sulamericana tomou esse posto – e só voltará a ser plenamente democrática ano que vem – quando os times brasileiros da Libertadores voltarem a disputa – o que também dará um upgrade na disputa pela taça.
Maior desafio do Tremendão começa hoje |
E nossa Federação precisa mesmo de bons resultados dos seus filiados. No ranking da CBF estamos capengando, tomando sova de goianos, catarinenses, paranaenses e pior, dos rivais-vizinhos pernambucanos. Hora de tomar tenência, herdeiros de Caramuru! [sem rima, cambada].
Porque o charme da Copa do Brasil nunca estará completo até o grito de campeão ganhar um sotaque malemolente.
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