quarta-feira, 7 de março de 2012

O charme da copa

Wembley. Final da Curling Cup, 26 de fevereiro de 2012. No último minuto da prorrogação, escanteio para o modesto Cardiff da segunda divisão. Vinte jogadores dentro da grande área do Liverpool, que tinha vantagem de 2 a 1 no placar conquistada cinco minutos antes. Durante os dois segundos que a bola viaja desde o corner, atletas agarram-se a acotovelam-se vorazmente – qualquer soprador de apito tupiniquim teria parado o lance mas na terra da Rainha só não vale dedo no olho – buscando ocupar o melhor espaço para alcançar a pelota e quando ela fica em disputa entre o defensor galês e o atacante dos Diabos Vermelhos – no lance em posições invertidas – a tensão atinge um nível cataclísmico que se transforma em jubileu branco e azul após um empurrão e dois chutes de Ben Turner empurrando às redes a bola e quase o holandês Kuyt por tabela.

Pouco importa para o final da história que o título ficou na Inglaterra após a definição em tiros da marca fatal. O que fica da peleja é a luta dos postulantes a heróis, uma batalha entre galeses e ingleses que guerrearam com a mesma bravura que seus antepassados dedicaram ao rei Henrique V na batalha de Agincourt – se Shakespeare não tiver a nos enganar a tantos séculos.

Esse embromatório todo, nariz de cera que invejaria o Cyrano de Bergerac, é pra demonstrar com um único exemplo, o quão emocionante pode ser um confronto decisivo por uma copa. Copa do Mundo ou Copa Kaiser, FA Cup ou Intermunicipal, confesso: Sou fã do mata-mata [playoff é pra NBA e NFL, aqui é no populacho] e tenho saudade do tempo em que o brasileirão era decidido em uma contenda mortal, num teste cardíaco pra duas torcidas. Pontos corridos? Justiça?  Troco uma tonelada de justiça por meio quilo de emoção. Mas aí já é papo pra um post futuro.

A intenção era falar da Copa do Brasil. Intenção não, vou falar mesmo. A competição vendida por muitos como “o caminho mais curto até a Libertadores” é muito mais que isso. É a competição mais charmosa do país, oportunidade única de pequenas agremiações ombrearem-se aos gigantes, chance de revelações dos mais longínquos rincões da Terra Brasilis.

Esse charme é pra mim o mais relevante nesta competição criada em 1989 para permitir que todos os federados tivessem uma mísera chance de disputar uma competição nacional [o enxugamento do brasileirão em 1986 melhora o índice técnico, mas renega esse direito] já que nem é o caminho mais curto pra copa Santander – a Sulamericana tomou esse posto – e só voltará a ser plenamente democrática ano que vem – quando os times brasileiros da Libertadores voltarem a disputa – o que também dará um upgrade na disputa pela taça.

Maior desafio do Tremendão começa hoje
Quem gosta de moleza então, só tem esse ano. Aqui na Boa Terra vislumbro outra chance real de termos três representantes na segunda fase, repetindo o feito de 1999 quando o Camaçari despachou o Paraná Clube. É que o brioso Tremendão, com as benesses de campeão baiano, enfrentará o Aquidauanense-MS [hã?] com grandes chances de triunfo. Da dupla Ba-Vi o mínimo que espera é que passem a terceira fase. Cair antes disso, admitamos, é vexame.

E nossa Federação precisa mesmo de bons resultados dos seus filiados. No ranking da CBF estamos capengando, tomando sova de goianos, catarinenses, paranaenses e pior, dos rivais-vizinhos pernambucanos. Hora de tomar tenência, herdeiros de Caramuru! [sem rima, cambada].

Porque o charme da Copa do Brasil nunca estará completo até o grito de campeão ganhar um sotaque malemolente.

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