sexta-feira, 22 de julho de 2011

Eficiente, porém pouco eficaz

Não sou administrador, tampouco matemático. Mas com o perdão dos profissionais das duas áreas utilizarei ferramentas familiares a ambos para uma análise de desempenho e das perspectivas do time do Bahia. Como não acredito que apenas números bastem para aferir desempenho - algarismos sem contextualização parecem dados jogados ao ar, usarei observações qualitativas para embasar o conteúdo. Destaquei algumas estatísticas interessantes:

1) Número de desarmes - Bahia é o segundo em número de desarmes [127,9 por jogo], sendo o primeiro em desarmes completos [87,3] e segundo em incompletos [40,6]. Perde apenas para o líder Corinthians. Esse dado diz muito sobre a forma de atuar da equipe. A dupla de zaga está entre os dez maiores ladrões de bola do campeonato, o que reforça o bom desempenho no combate direto aos atacantes. Com três volantes e marcação alta no meio, o time recupera muitas bolas, o que favorece o contra ataque. Entretanto a equipe não é tão compacta como o Corinthians e a linha de marcação joga mais recuada em relação aos paulistas - o espaço percorrido até infiltrar na área adversária é maior. Daí o alto número de bolas perdidas [38,7] o terceiro neste quesito. Mas o que mais relativiza o desempenho neste item é o fato do time abrir mão da posse de bola - mesmo quando joga em casa -  e o alto índice de passes errados [21,3%] melhor apenas que do Avaí. Não adianta desarmar tanto para devolver ao adversário. Além disso o time é o quarto mais faltoso do campeonato [19,6]. Uma boa solução é aproximar mais os setores e claro, qualificar mais o passe no meio campo.

2) Finalizações - René citou em coletiva essa semana que o time tem finalizado muito e não tem aproveitado as chances. Verdade. A média é boa [12,8], entretanto América-MG, Atlético-PR e Avaí também possuem desempenho bom neste quesito e estão ainda pior na tabela. Finalizar às vezes é apenas um reflexo da proposta de jogo. Se a equipe se posiciona sempre para contra atacar, atuando de forma reativa e abrindo mão da posse de bola, chega ao ataque com poucos jogadores o que "obriga" os atacantes a definirem logo em virtude da desvantagem númerica. Em função disso cai a qualidade do arremate pois a jogada é pouco trabalhada. Time é o quarto que mais dribla [14,2] e Jóbson é o segundo driblador do campeonato [5,8] com Júnior entre os maiores finalizadores [3,6]. Os dois concentram a definição das jogadas por falta de aproximação dos homens de meio. Estão sempre em desvantagem em relação à defesa adversária.

O trabalho de René Simões é bom. Há um consenso que a equipe apresenta um futebol de qualidade superior ao refletido na posição atual do campeonato. A proposta de jogo é consistente, mas precisa de alguns ajustes. Para elucidar, utilizarei conceitos de administração. Os números mostram que o Bahia é eficiente [sabe o que fazer e como fazer] mas não é eficaz [fazer de forma certa]. Além de fazer a coisa certa, tem fazer certo a coisa. Esse detalhe é a diferença que falta para a equipe deslanchar no Brasileiro.

Obs: Essa é uma análise da média do esquedrão no campeonato, ou seja, do comportamento mais usual. Pontualmente a equipe teve postura diferente, como no primeiro tempo contra América-MG, segundo tempo contra Corinthians e Cruzeiro e alguns minutos contra Botafogo e Flamengo. Em geral, forçada pelo resultado e proposta do adversário.


Nota 1: Fonte Datafolha.
Nota 2: Números entre colchetes se referem à media por jogo.

2 comentários:

  1. Muito boa análise. Resumiu e esclareceu tudo que nós, torcedores, temos falado e pensado do nosso esquadrão. Faço das tuas palavras as minhas. Abraços.

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