quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Teoria e prática

A chegada de Paulo Roberto Falcão ao Bahia gerou uma grande expectativa. Não só pelo que ele representa para o futebol brasileiro, mas também - para mim principalmente - pelas idéias e conceitos que o “Rei de Roma” defende em relação a postura tática, estratégia de marcação, planejamento do futebol e estilo de jogo. Há algum tempo desejava que um técnico que acreditasse nesses conceitos desembarcasse no Fazendão. E sinceramente, nunca me preocupei com a falta de experiência ou controle de vestiário que supostamente mina a eficiência de seus trabalhos como treinador.
Bom início deve dar tranquilidade para consolidação de novo estilo de jogo
Quer dizer que após apenas três jogos já vaticino o trabalho de Falcão como vitorioso? "Calma, calma, eu tô pedindo calma!" O bom início – e não me refiro apenas a resultados – é alentador mas não pode esconder que ainda há muito a evoluir. Mas pela exigüidade de treinamentos, falta de pré-temporada e ruptura quase total com o modelo do técnico anterior é  motivo de otimismo a evolução do padrão de jogo da equipe em tão pouco tempo.

Taticamente o time tem mantido o mesmo sistema desde a estréia no clássico. Tendo como peça chave o meia-atacante Gabriel a equipe evolui de um 4-2-2-2 pra um 4-3-3 de base alta. Só para lembrar esse sistema evoluiu de um 4-4-2 em losango aplicado pelo auxiliar Eduardo Souza contra o ECPP. Morria ali o anódino 4-3-2-1 do papai Joel.

Muito mais importante que o sistema, entretanto, tem sido a estratégia de jogo tricolor. Com uma marcação meia pressão bem definida no campo adversário, triangulações, ultrapassagens e transições ofensivas pelo chão, a equipe mostra um estilo de jogo diametralmente oposto ao da última temporada. Lógico, é necessário relativizar o nível dos adversários e a fase menos aguda do campeonato, mas não há como negar um comportamento coletivo mais atraente do Esquadrão.


No jogo desta quinta contra o Fluminense de Feira, mesmo com os importantes desfalques de Souza e Morais foi possível observar essa evolução. Com a saída de Coelho no início do embate por contusão, o técnico Falcão optou por Diones para atuar no setor – mesmo com a afirmativa de que ele não possuía nenhuma experiência na posição – para não alterar o seu sistema de jogo. Um grande acerto pois manter Gabriel como peça-chave do esquema foi fundamental para conquistar o triunfo.

O Bahia dominou amplamente a primeira etapa e poderia ter saído com a vantagem antes do intervalo não fosse o excesso de preciosismo e capricho em muitos lances. Faltava também uma boa chegada dos laterais, mais inversões de jogo e menos erros de passes. Tudo isso combinado atrapalhava a transição ofensiva contra uma equipe recuada e esforçada na defesa, porém pouco compacta. Com Magno pouco produtivo, coube a Gabriel a função de armador, regendo quase todas as jogadas ofensivas, ora como meia que afunila ora como ponta que abre o jogo. Com Ciro e Júnior revezando-se na referência [mas sem a eficiência de Souza em fazer a função de pivô] o ataque muitas vezes demonstrou desentrosamento, apesar de não ter faltado aplicação. Os volantes pouco chegaram nesta etapa, especialmente Helder sempre preocupado com a cobertura de William Matheus num período que o Flu quase não atacou.
4-2-2-2 bem definido com transição para 4-3-3 a partir do avanço de Gabriel. Indefinição da referência foi tônica da primeira etapa, assim como desempenho apático do camisa dez e laterais.
Na segunda etapa o tricolor da capital voltou disposto a definir o jogo. Com os volantes mais próximos dos meias e marcando numa faixa mais compacta do campo, sufocou a equipe interiorana, imprimiu mais velocidade ao jogo e logo chegou a vantagem. Em jogada toda arquitetada pelo camisa 8, um boa infiltração de Magno pelo meio da zaga feirense tirava o placar da inércia.

O Esquadrão não conseguiu marcar o segundo logo na sequência apesar de diversas chances criadas e começou a perder intensidade na partida. A falta de cancha de Magno e queda do ritmo de recomposição de Gabriel faziam o Bahia perder o meio campo. Para retomar o controle da partida, Falcão lançou Jones e Lenine no lugar de Júnior [mal tecnicamente] e Magno. Durante alguns minutos a equipe perdeu posse de bola e o Flu chegou a ameaçar um pouco. Com os ajustes o time retomou o controle da peleja, especialmente devido a nova configuração tática: Diones preso na lateral direita, Lenine compondo o meio, Matheus e Helder revezando na primeira e segunda linhas. Isso  fez Gabriel recompor menos e voltar a produzir mais. Nesse novo equilíbrio, a equipe retomou as ações e acabou por definir o jogo. Lenine roubou a bola no lance que culminou no terceiro gol [de Helder] e marcou o quarto em outra assistência de Gabriel – a terceira dele no jogo.

Com modificações Falcão fortalece o meio e solta ainda mais Gabriel. Revezamento entre Jones e Ciro é menos intenso, e a compensação ofensiva é a subida do lateral esquerdo. Aproximação e movimentação aumentam e equipe define partida.
O Flu de Feira mostrou-se valente e aplicado mas o único atleta digno de citação é o meia Thiaguinho - apesar do pênalti desperdiçado. A equipe está bem abaixo das tradições do único bicampeão do interior  e não deve alcançar a próxima fase. Quanto ao Bahia, mesmo com três volantes o posicionamento e a estratégia de jogo permitiram definir o jogo com tranqüilidade. Com compactação e imposição, como teorizou Falcão. E na prática, a teoria é  mesma. 

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